A história de Fordlândia começou em 1927, quando Henry Ford adquiriu um terreno de quase 15.000 km² às margens do Rio Tapajós, no Pará / Brazil.
No começo do século XX, as linhas de produção de Henry Ford construíam carros a uma velocidade jamais vista. Todos aqueles carros precisavam de pneus, e na época a borracha ainda era derivada das seringueiras do Sudeste Asiático. Para manter a eficiência de sua produção sem depender dos asiáticos, Ford decidiu ter sua própria produção de látex, e para isso construiu uma cidade tipicamente americana em plena Amazônia, batizada de Fordlândia.
População estimada 2010 - 2.000
Gentílico - Aveirense
Embora seja caracterizada na imprensa como "cidade fantasma", o distrito possui moradores fixos e permanentes. Em 2010 o IBGE contabilizou cerca de 1200 residentes somente na vila, números que somados ao território total do distrito chega a cerca de 2000 moradores em Fordlândia.
HISTÓRIA
No município de Aveiro está a localidade de Fordlândia, restos do que foi um fracassado projeto de plantação de seringueiras, às margens do Rio Tapajós, patrocinado por Henry Ford, e propriedade da Companhia Industrial Ford do Brasil. De 1927 a 1945 a Ford gastou milhões de dólares no que seria uma cidade modelo norte-americana no coração da mata Amazônica.
A história de Fordlândia começou em 1927, quando Henry Ford adquiriu um terreno de quase 15.000 km² às margens do Rio Tapajós, no Pará. Anos antes, o departamento de comércio dos EUA haviam feito um estudo de viabilidade de cultivo de seringueiras no Brasil com resultados positivos.
Sabendo disso o produtor rural Jorge Dumont Villares, conseguiu com o governador Dionísio Bentes uma concessão de uma grande porção de terra para cultivar seringueiras. Tudo de graça. Quando soube que Henry Ford procurava uma região para sua cidade no Brasil, Villares ofereceu suas terras a ele por um valor equivalente a quase R$ 3 milhões atualmente.
No ano seguinte ele enviou suprimentos e funcionários para criar uma típica cidade americana no local. Em pouco tempo a cidade ficou pronta, com escolas, eletricidade, saneamento, clube social/recreativo e um hospital (onde viria a ser feito o primeiro transplante de pele no Brasil). O empreendimento, como se diz hoje, tinha tudo para dar certo se não fossem dois graves problemas.
O ciclo da borracha no Brasil viveu seu auge entre 1879 e 1912 — quinze anos antes da compra da área por Ford —, e entrou em declínio depois que os britânicos levaram 70.000 sementes de seringueira da Amazônia para o Sudeste da Ásia e começaram a produzir látex com maior eficiência e produtividade devido às condições do solo.
Para deixar a situação ainda pior, Ford tentou impor a cultura americana de trabalho aos brasileiros, fornecendo uma alimentação tipicamente norte-americana, casas americanas, e os obrigava a usar crachás e a trabalhar sob um modelo ao qual não estavam habituados. Isso causou a insatisfação dos funcionários, que resultou em baixa produtividade e conflitos. O mais marcante deles aconteceu em 1930, quando os funcionários se revoltaram contra a dieta americana, que incluía espinafre e até hambúrgueres.
Os americanos não tinham conhecimento prático algum em botânica e, além de não conseguiram prever o fungo do mal-das-folhas, as seringueiras eram plantadas muito próximas entre si, o que as tornava um alvo fácil para pragas, que dizimaram as plantações. A Ford ainda tentou realocar as plantações em Belterra, onde foi construída uma segunda cidade, mas em 1945, com o surgimento da borracha sintética — feita com derivados de petróleo — o empreendimento já não havia mais razão de existir e foi cancelado pelo presidente da companhia, Henry Ford II.
O Governo Brasileiro indenizou a Ford em aproximadamente US$ 250.000, e ainda assumiu as dívidas trabalhistas com os trabalhadores. Em troca, recebeu seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros de estradas;
dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; um departamento de pesquisa e análise de solo; e a plantação de 1.900.000 seringueiras em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra.
dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; um departamento de pesquisa e análise de solo; e a plantação de 1.900.000 seringueiras em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra.
A selva amazônica já engoliu o campo de golfe Winding Brook. Enchentes arrasaram o cemitério, deixando para trás um monte de cruzes de concreto. O hospital de cem leitos projetado pelo aclamado arquiteto de Detroit Albert Khan foi destruído por saqueadores.
Diante da escala de decadência e decrepitude nesta cidade --fundada em 1928 pelo empresário Henry Ford em paragens longínquas da bacia Amazônica--, eu não esperava encontrar as residências imponentes, muitas delas bem preservadas, na Palm Avenue. Mas lá estavam elas, graças aos invasores.
"Esta rua foi um paraíso dos saqueadores. Os ladrões levaram móveis, maçanetas, tudo o que os americanos deixaram para trás", disse Expedito Duarte de Brito, 71, um leiteiro aposentado que vive em uma das casas construídas para os gerentes de Ford no que deveria ser uma cidade de plantação utópica. "Eu pensei: 'Ou eu ocupo este pedaço da história ou ele se somará às outras ruínas de Fordlândia'", disse Brito.
Em mais de uma década de reportagens na América Latina, fiz dezenas de viagens à Amazônia, atraído frequentemente por seus enormes rios, os céus magníficos, cidades pujantes, civilizações perdidas e histórias de ousadia consumida pela natureza. Mas por algum motivo nunca cheguei a Fordlândia.
Isso mudou finalmente, quando embarquei em um barco fluvial neste ano em Santarém, um posto avançado na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, e fiz a viagem de seis horas até o lugar onde Ford, um dos homens mais ricos do mundo, tentou transformar uma enorme extensão da selva brasileira em uma terra da fantasia do Meio-Oeste americano.
Explorei o posto a pé, percorrendo as ruínas e conversando com garimpeiros, agricultores e descendentes de trabalhadores rurais que vivem aqui. Sem nada de cidade perdida, Fordlândia abriga cerca de 2.000 pessoas, algumas das quais vivem nas estruturas desmoronadas construídas há quase um século.
Ford, o fabricante de automóveis que é considerado um fundador dos métodos de produção em massa industriais dos EUA, tramou seu projeto da Fordlândia em uma aposta para produzir sua própria fonte de borracha, necessária para fazer pneus e peças de carros como válvulas, mangueiras e vedações.
Ao fazê-lo, ele invadiu uma indústria moldada pelo imperialismo e alegações de suposta finalidade botânica. O Brasil era o lar da Hevea brasiliensis, a cobiçada seringueira que produz a borracha, e a bacia Amazônica floresceu de 1879 a 1912 enquanto as indústrias da América do Norte e da Europa alimentaram a demanda por borracha.
Para decepção dos líderes brasileiros, porém, Henry Wickham, um botânico e explorador britânico, contrabandeou milhares de sementes da seringueira em Santarém, fornecendo a matriz genética para as plantações de borracha nas colônias britânicas, holandesas e francesas na Ásia.
Esses empreendimentos do outro lado do mundo devastaram a economia da borracha no Brasil. Mas Ford não queria depender dos europeus, temendo uma proposta de Winston Churchill para criar um cartel da borracha. Por isso, em uma medida que agradou às autoridades brasileiras, Ford adquiriu um vasto terreno na Amazônia.
Desde o início, a inaptidão e a tragédia prejudicaram o empreendimento, meticulosamente documentado em um livro do historiador Greg Grandin que li no barco enquanto subia o Tapajós.
Desdenhando os especialistas que poderiam tê-lo aconselhado sobre agricultura tropical, os homens de Ford plantaram sementes de valor duvidoso e deixaram as doenças das folhas assolarem a plantação.
Desdenhando os especialistas que poderiam tê-lo aconselhado sobre agricultura tropical, os homens de Ford plantaram sementes de valor duvidoso e deixaram as doenças das folhas assolarem a plantação.
Apesar desses reveses, Ford construiu uma cidade em estilo americano, que ele queria que fosse habitada por brasileiros conduzidos pelo que ele considerava valores americanos.
Os empregados se mudaram para bangalôs feitos de madeira compensada --projetados em Michigan, é claro--, alguns dos quais ainda estão de pé. Postes de rua iluminavam as calçadas de concreto. Partes desses caminhos persistem na cidade, ao lado de hidrantes vermelhos e à sombra de salões de dança decadentes e armazéns desmoronados.
"Afinal, Detroit não é o único lugar onde Ford produziu ruínas", disse Guilherme Lisboa, 67, dono da Pousada Americana.
Além de produzir borracha, Ford, um declarado abstêmio, antissemita e cético da Era do Jazz, queria claramente que a vida na selva fosse mais transformadora. Seus gerentes americanos proibiam o consumo de bebida alcoólica, enquanto promoviam a jardinagem, a dança de quadrilha e leituras de poemas de Emerson e Longfellow.
Indo mais longe na busca da utopia por Ford, esquadrões sanitários atuavam em todo lugar, matando cães sem dono, secando poças de água onde poderia se multiplicar o mosquito transmissor da malária e examinando os empregados em busca de doenças venéreas.
Fordlândia não foi completamente esquecida. Músicos e escritores já destacaram a utopia de Ford em suas obras. A cantora e compositora Kate Campbell, por exemplo, imortalizou Fordlândia e sua decadência em seu álbum de 2008 "Save the Day". Ainda nesse ano, o compositor islandês Jóhann Jóhannsson lançou um álbum intitulado Fordlandia.
Na literatura, o historiador da Universidade de Nova Iorque Greg Grandin lançou o livro "Fordlandia – A ascensão e a queda da cidade perdida na selva de Henry Ford", considerado um dos cem melhores livros publicados em 2009 pela Amazon. Além disso, um documentário sobre a cidade também foi desenvolvido pelos brasileiros Marinho Andrade e Daniel Augusto. O escritor argentino Eduardo Sguiglia lançou o livro "Fordlândia" (Editora Iluminuras, 1997), escolhido como um dos quatro melhores trabalhos de ficção pela The Washington Post (2000).
Após a desativação do projeto, os antigos trabalhadores da Ford preferiram ficar estabelecidos na localidade, visto que era dotada de grande infra-estrutura. Este fato atraiu também moradores do entorno, que viram a oportunidade de fixar residência na localidade, após o abandono de muitas edificações em boas condições.
Fonte dos textos e fotos: flatout.com.br / uol.com.br / Thymonthy Becker / Internet / Wikipédia / Charlie Styforlamber /
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